Eu não conhecia
o garoto que derrubou o segurança para tentar abrir a porta e tentar escapar da
morte; eu não conhecia a menina que simplesmente jogou os sapatos de salto em
um canto e correu para onde todos estavam indo, na esperança de ver o céu
escuro e seguro do lado de fora da boate; eu não conhecia a banda, que por mais
que não soubessem das consequências, matou mais de duzentos e trinta pessoas; mas nesse momento, a única coisa que me resta
conhecer é um Brasil que não sabe dizer o quanto sente muito por não ter mais
saídas disponíveis naquele lugar; é uma mãe, que chora desesperada porque o
filho não vai mais voltar pra casa; é um irmão, que não acredita que o possível
"herói" dele está morto. Todo mundo morreu um pouquinho ao ouvir no
noticiário que tantas vidas, tantas almas novas se foram sem realizar seus
sonhos, sem alcançar suas expectativas, sem um adeus digno.
E tudo isso me dói, me dói saber que poderia ter sido com
alguém próximo, que eu amasse. Alguém que me fizesse sorrir todo dia, porque
querendo ou não, o motivo de alguém ser feliz não está mais entre nós. Não há
mais nada o que fazer. É tão clichê dizer que é pra se viver o agora, sem
esperar o amanhã quando o trabalho nos ocupa todo dia, quando não nos
importamos mais com o que fazer para o jantar, quando um abraço e um beijo são
trocados somente em momentos ultra especiais, porém eu só peço que procurem não
ter arrependimentos ou coisas pendentes na vida; se é pra fazer, que faça hoje,
não espere o depois, porque como aprendemos com a tragédia na boate em Santa
Maria, o amanhã pode não chegar, não é mesmo?
Não existem palavras que justifiquem a dor de quem perde um
ente querido.
É muito lamentável vê jovens, com tantos e tantos sonhos,
com um futuro e uma vida inteira pela frente, morrerem por não terem pagado uma
comanda, e agora?
A negligência e falta de responsabilidade do Dono dessa casa
noturna, que nem saída de emergência foi capaz de pôr. Por que um lugar com
capacidade de suportar a quantidade de gente que lá tinha, poderia ter ao menos
uma saída de emergência.
O que vai acontecer, quem vai poder trazer esses jovens de
volta para suas famílias? Ninguém é claro. Será que valeu a pena cobrar a
comanda de pessoas que apenas queriam se salvar e continuar seus sonhos? Será?
A única coisa que realmente sei, é que mais uma vez o
dinheiro falou mais alto do que os gritos de socorro e o desespero daqueles
jovens. Que descansem em paz!
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